quarta-feira, 10 de julho de 2013

Capítulo XVIII

Um gole. Respira. Outro gole.
Como todos conseguem pouco se importar com tudo? Ah, como é terrível que desperdicem seus dias só tentando se manter vivos.
- Quer mais um pedaço de bolo, Carol?
- Não, mãe. Obrigada.
- Você quase não comeu, menina. Está ruim? Acho que nunca vou conseguir te agradar.
- É aniversário do pai, mãe. Por quê você não se anima e fica por perto dele? Pode deixar que eu não vou me incomodar.
- Sabe, não sei onde eu errei com você. - Sua mãe tinha os olhos levemente marejados.
- Você não errou, mãe. Agora vá ficar com o pai, antes que torne esse jantar algo triste.
- Você é a tristeza, Carolina. - E foi para o lado do aniversariante, enxugando uma lágrima que não respeitou sua vontade de não chorar, e sorrindo para disfarçar.
Das coisas que tem sentido, o café quente pela garganta, com certeza é uma das melhores. Mas a vida é mágica, afinal. Carolina se lembra muito bem de quando era criança e ia nas apresentações de teatro de sua irmã, a Sra. Sou-Tão-Bela-E-Sensível, onde ninguém precisava sentir algo para expressar isso. Essa era a mágica da vida. A vida imita a arte, e vice-versa.
Das coisas que tem vivido, reuniões familiares é uma das piores. Ah, com certeza é uma das piores, agradeçam. Ser questionada de todas as suas atitudes. Pelos deuses! Por que não podem simplesmente deixá-la em paz, como ela faz com eles? Seria simples e pura hipocrisia? Ela gostaria que fosse. Mas algo diz que talvez eles liguem para a felicidade dela.
- E então?
- Você sabe que eu simplesmente não quis ir.
- Detesto essa sua mania.
- Eu sei.
- Você já deu parabéns ao papai e, pelo menos, o abraçou?
- Não, ele está um pouco ocupado com as crianças da família.
- Pare de enrolar.
Um gole. Respira. Outro gole.
- Você devia diminuir esse café.
- Deixe eu dar meus cumprimentos ao nosso pai.
Outro gole.
Se aproximando de seu pai, que conversava com sua tia, as crianças resolvem que é mais seguro ir brincar onde a prima Carol não esteja por perto. Seu pai interrompe a conversa e sorri para ela, que devolve um sorriso quase imperceptível. Mas ele conhecia o sorriso.
- Parabéns, pai.
- Obrigado. Agora, seu pai, velho como está, deve merecer algo um pouco mais afetivo.
- Pai...
- Venha, prometo que você pode usar o banheiro para tomar um banho depois de me abraçar.
Das reuniões, seu pai era a única parte agradável. Ele brincava com as verdades quase sempre. Ele quase a entendia. Quase. E por esse quase, ela o abraçou.
- O banheiro, você sabe onde fica. - E ambos riram.
- Não, obrigada. Eu teria que usar uma das suas toalhas. - E riram mais um pouco.
- Agora eu irei embora, pai.
- Mas você chegou não faz nem uma hora, e já quer ir embora?! Carolina, mas nem no aniversário de seu pai você pode ter um tempo para a família?! - Sua mãe parecia furiosa.
- Deixe que a menina vá, Cristina. - Seu pai sempre teve a mania de intervir nas crises de sua mãe.
- Não, Paulo! Ela sempre vai manter essa impertinência!
- Não vamos nos aborrecer, certo? Ela, com certeza, tem coisas à fazer.
- Vocês quem sabem. Eu vou até a cozinha terminar de servir os doces.
Eles assistiram ela se retirar.
- Obrigada.
- Não precisa agradecer.
E ela saiu para o ar da noite quente.

Capítulo XVII

"John tinha um amigo,
Minha nossa, que perigo!
Vivia escondido
Na cabeça do individuo.

John tinha um amigo,
Ah, um amigo!
Vivia perdido
No mundo desconhecido."

- Lá vem você.
- Amo torradas!
- Eu não comeria essas aí. Elas não são amigáveis.
- Você também não é. Mas veja só como nos damos bem.

"John tinha um amigo"

- Hoje eu quero sair, John.

"Minha nossa, que perigo!"

- Que tal me deixar em paz?

"Na cabeça do indivíduo"

sábado, 11 de maio de 2013

Capítulo XVI

Guinnievere se depara com a mesa do café bem preparada, o sol da manhã entrando pelas janelas.
- Isso está parecendo comercial de margarina, John.
Ela vai até a mesa e pega uma das torradas.
- John? Está em casa?
Guinnievere atravessa da copa para a cozinha e ali acha John. Infelizmente John não acha ninguém nesse momento. John está caído com o rosto no chão e uma pequena poça de sangue se forma ao redor de sua cabeça, como um halo.
 - Ai, merda!
Ela corre e o vira, o sacudindo. Aparentemente ele desmaiou e quebrou o nariz na queda.
- Ai, John! John! John! John! Pelo amor de Deus, John!
John abre o olho e diz algo meio débil.
- John! Anda, acorda, por favor!
Agora ele já parece a voltar a si.
- Nossa... Acho que precisamos de macilento piss... 
- O quê? John, vou chamar uma ambulância!
- Não, não! Estou bem!
- Bem? Olha pra você!
- Sério, foi só uma tontura! - John começa a se levantar e tosse um pouco.
- John, você não está bem!
- Estou sim, é só que o chão deve ter me dado um pouco de gripe. - Ele pega um guardanapo e limpa o sangue seco do rosto. - Essas torradas são violentas.
- Isso não é hora de piadas! O que aconteceu?
- Não sei bem. Uma hora eu estava fazendo as torradas e "bam!" apaguei. Ainda acho que foi a torrada.
- Pare de ser idiota. Você deve ir no médico.
- Ele não vai curar minha idiotice, você sabe. - E nessa ele conseguiu faze-la rir. Ponto pra mim, ele pensou. - Agora vamos terminar esse café, porquê eu não o fiz por nada.
- Certo. Mas depois você vai me prometer ir ver o que aconteceu com você.
- Ok, ok.
E foi um café da manhã agradável como todo o resto do dia, para Guinnie. Para John, bom.. John  tem outra história. Ou outras.


quinta-feira, 14 de março de 2013

Capítulo XV

O Sol começa a se mostrar no leste, invadindo lenta e continuamente o céu naquela terça-feira. Guinnievere se levanta quando os primeiros raios de luz invadem seu quarto, lhe acertando o rosto. Ela se vira para abraçar John, que já não está la, e olha para o despertador a tempo de ver a mudança das 6:16am para 6:17am.
Mal pudia acreditar em todas as mudanças que iriam ocorrer naquela terça-feira. Aquela mágica terça-feira. Tinha conseguido um emprego. John tinha conseguido uma participação musical. E o cheiro de café já estava no ar assim que o Sol nascia! Nada podia dar errado hoje.
Ela se levanta e caminha nua até o banheiro ao fim do corredor. Se lembrava de quando John fazia aqueles previsões do futuro quando tinham algo entre 17 e 18 anos, dizendo que ele se deslumbraria enquanto ela poderia andar pela casa da forma como fazia agora. Nua e feliz. Era uma sensação tão forte e pura que não conseguia se conter e sorria. Se olhava no espelho e sorria. Sequer se lembrava da última vez que se sentia tão feliz, tão certa dos acontecimentos da sua vida. Se é que alguma vez ela já tenha se sentido assim.
Guinnie dormira tão pouco, mas se sentia com tanta energia e tanta disposição. Imaginava que John sentisse o mesmo, afinal, tinha levantado ainda mais cedo do que ela. O que não era nada comum; nada mesmo.
Tomou o banho de água mais límpida que já notara. Se secou com a toalha mais macia que já experimentara (apesar de ter sido a mesma que ela utilizou ontem. Mas ontem foi um outro dia, em uma outra vida.). Colocou sua calça e camisa mais confortáveis, pois ainda tinha algum tempo antes de ter de sair novamente, e seguiu o maravilhoso cheiro de café.
- Espero que tenha torradas com geléia, Chef Riley!
E tinha.